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Márcio Moraes
no leito solidário de uma floresta altiva descansem por favor a minha poesia
Textos

Grande sertão: veredas, de Guimarães Rosa

 

Grande Sertão: Veredas, lançado em 1957, único romance do escritor mineiro João Guimarães Rosa, é uma obra literária profundamente complexa que transcende os limites da narrativa tradicional, repleta de elementos que ampliam a compreensão do sertão e do ser humano. A história é narrada por Riobaldo, um ex-jagunço que se tornou líder de um bando e viveu uma jornada épica pelo sertão de Minas Gerais, com uma visão íntima e subjetiva do mundo sertanejo a partir de suas experiências e reflexões. O foco narrativo em primeira pessoa permite ao leitor adentrar profundamente na psicologia do narrador e entender seus dilemas morais, dúvidas existenciais e a complexa linguagem que permeia o enredo, repleta de neologismos e regionalismos, configurando uma identidade única de escrita.

 

O tempo da obra é psicológico, pois Riobaldo revisita sua vida, mesclando passado e presente, enquanto luta com suas lembranças e traumas, criando uma estrutura narrativa que reflete a natureza fragmentada da memória e da experiência. O protagonista narra sua trajetória, repleta de conflitos, encontros e desafios, numa busca de compreensão de sua própria existência a um doutor/ouvinte como se fosse “um desabafo”.

 

O espaço é fundamental, situando a narrativa no sertão mineiro com passagens por Goiás e Bahia, uma paisagem vasta e árida, mas com seus caminhos verdes (veredas). A trama explora a relação das personagens com esse ambiente desafiador e com seus próprios dilemas. O sertão rosiano é descrito de forma exuberante e simbólica, desempenhando um papel quase mítico, revelando tanto a paisagem física quanto a paisagem interior das personagens.

 

Riobaldo e Diadorim são as personagens fundamentais da história, e sua relação é um elemento essencial no livro. Riobaldo é uma personagem conflituosa que reflete sobre identidade, moralidade, religião e existência, o qual vive conflitos morais profundos, em constante busca por respostas e por um sentido maior para a vida. Diadorim, por sua vez, é uma pessoa misteriosa e enigmática, um companheiro de Riobaldo na luta e, ao mesmo tempo, um “objeto” de desejo amoroso e idealização. A relação entre eles envolve camaradagem e respeito, ao mesmo tempo em que é marcada por uma intensa ligação emocional a qual se desdobra em uma profunda amizade, conflito de identidade e uma paixão reprimida, conferindo uma dimensão complexa e subjetiva à trama. Um dos pontos centrais dessa relação é a ambiguidade de gênero e sexualidade, simbolizando a fluidez das fronteiras entre amor e amizade, bem como os desafios da busca por identidade e pertencimento em um mundo violento e desumano, num contexto cultural marcado pela masculinidade.

 

Outro tema significativo em Grande sertão: veredas é a reflexão sobre a existência de Deus e o Diabo, por parte do protagonista. A narrativa, permeada por elementos míticos e religiosos, explora a dualidade entre o divino e o demoníaco, bem como a ambiguidade que permeia a natureza humana. Riobaldo oscila entre a crença em Deus e o medo do Diabo, refletindo a complexidade da fé e da superstição no sertão brasileiro. Essa dualidade se manifesta não apenas na religiosidade popular, mas também nas lutas de jagunços, em que a violência é justificada tanto pela vingança quanto por motivações divinas. A obra desafia o leitor a questionar as fronteiras entre o sagrado e o profano, o bem e o mal, enquanto explora a busca de Riobaldo por sentido e redenção em um ambiente selvagem e impiedoso.

 

Por fim, Guimarães Rosa nos brinda com uma obra rica em simbolismo e filosofia, que desafia as convenções narrativas, com uma prosa inovadora, de linguagem única e poética tornando sua leitura uma experiência literária fascinante e desafiadora. O livro, em sua essência, explora temas profundos, como a natureza humana, a ética, a violência, a dualidade do bem e do mal, a complexidade do ser humano e a busca por significado em um ambiente implacável. A relação entre Riobaldo e Diadorim é repleta de simbolismo, dualidade e ambiguidade, o que espelha não só os conflitos sociais e as tensões do sertão, mas também a complexidade dos sentimentos humanos. Tal ligação não só traz a dimensão do amor e da amizade, mas também exemplifica os conflitos internos e a busca por entendimento dos mistérios da vida e da existência.

 

Para ler uma análise completa e resolver questões sobre a obra, adquira o livro Travessias: secas e veredas e estrelas.

Márcio Adriano Moraes
Enviado por Márcio Adriano Moraes em 05/11/2023
Alterado em 05/02/2024
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